terça-feira, 12 de setembro de 2017

ALJAZERA CONTRA GLOBO * Henrique Mann

 Importante documentário/denuncia da ALJAZEERA contra a Globo
https://ocafezinho.com/2017/09/11/o-video-da-al-jazeera-que-denuncia-o-papel-da-globo-no-golpe-com-legendas/
12/09/17, 

Organização

Se você ainda não sabe o que são “think tanks”, Atlas Network, Fórum da Liberdade, Instituto Millenium, Alejandro Chafuen e Irmãos Koch, com certeza ainda não entendeu bem o que está ocorrendo no Brasil e no mundo, nem sabe que as forças de ataque da extrema direita são muito maiores e mais organizadas do que você pensa, infinitamente mais do que MBL, Bolsonaro ou Aécio. Mas sempre que um boçal te atacar com mantras de que “o comunismo matou mais gente que o capitalismo”, “vai pra Cuba” ou simplesmente desatar a colar memes e escrever palavrões na internet, isto tem relação direta com todos os inicialmente citados. Eles promovem concursos com boas premiações em dinheiro para que seus membros produzam memes ou vídeos para o youtube que "viralizem", atacando seus adversários. Este pessoal faz até cursos com o americano James O’Keefe, especialista neste tipo de coisa.

Vou tentar resumir: a Atlas Reserch Economic Fundation ou Atlas Network é uma instituição norte-americana financiada majoritariamente pelos magnatas do petróleo David e Charles Koch, com apoio de centenas de mega empresas mundiais que vão da Philip Morris à Mastercad, chegando à Gerdau, à Fiergs e à Fiesp no Brasil. Atingem o planeta todo atualmente. São defensores das ideias de Hayek, Von Mises e da ultra reacionária maluca Ayn Rand, que escreveu em 1957 o livro “A revolta de Atlas”, em que defendeu a ideia de que o mundo pertence e é sustentado pelos ricos e que sem eles o planeta cairia no caos. Daí o nome da Fundação Atlas.

Esta “entidade” surgiu nos anos 1980 do consórcio entre o inglês Antony Fischer (fundador da IEA) e o americano Leonard Read (da FEE), donos de fundações cujo propósito era vender propaganda ideológica de direita para grandes empresas. Assim nasceu a Atlas, juntando os dois ativistas e financiados pelos Koch, com a adesão de várias outras empresas. Em 1991, com a morte de Fischer, a Atlas foi assumida pelo argentino-americano Alejandro Chafuen, cria mais que reacionária da Atlas, gestado, treinado e educado pelo golpe militar argentino. Este é o indivíduo que está pessoalmente por trás do MBL, por exemplo. E do Millenium, e do EPL, e do Ilisp...aqui no Brasil...mas também da Fundação Eléutera, em Honduras ou da Fundação Pensar, da Argentina.

São as “think tanks” (em uma tradução livre seria “entidades formadoras de opinião”). No Brasil são mais de 30 mantidas e financiadas pela Atlas Network e sua turma. Eles bancam desde "robôs de compartilhamento automático e spam" até os mais boçais serviçais de perfis fakes no varejo da internet, sob a batuta de "intelectuais ideólogos". Vejamos o que dizem alguns destes “ideólogos”: o gaúcho Fernando Schüller, que andou por vários partidos, inclusive à esquerda, é, agora, do Millenium e diz que o “sucesso do MBL deve-se ao fato de não ter identificação com partidos” (?!) e que “a única forma de reformar radicalmente a sociedade e reverter o apoio popular ao Estado de bem-estar social é travar uma guerra cultural permanente para confrontar os intelectuais e a mídia de esquerda”.

Bem, nada de espantar, já que o chefe dele no Millenium, Rodrigo Constantino, enxerga conspiração de esquerda até na inserção de algo da cor vermelha na logomarca da Copa do Mundo e é o criador do termo “esquerda caviar”. Olavo de Carvalho e suas pataquadas "intelectuais" é um dos "elos fortes da corrente". Também a maçonaria, infelizmente.

Outra peça rara nesta engrenagem é Helio Beltrão, sim, ele mesmo, largou tudo para administrar uma destas “think tanks”: o “Instituto Mises” (tão citado pelos Bolsonaros). Por isto não é de admirar que Schüller declare que por ele “privatizaria toda a previdência e a educação no Brasil” e que "o único caminho para atingir esta meta é ter muitas “think tanks” no Brasil financiadas por empresas". Você entendeu agora?

Para concluir a história da Atlas e sua relação com o Brasil e os agressivos boçais da internet, acrescento que até a explosão mundial da web nos anos 1990, estas “think tanks” não tinham tanta força. Mas foi através dela (internet) que ganharam esta magnitude. Seus veículos principais são o Youtube, o Facebook, Whatsapp, Instagram... eles têm os blogs (Antagonista e Cia) como base, mais que a imprensa tradicional, pois descobriram que pouca gente lê; e que é mais fácil atacar por memes e pequenos vídeos; e que a esquerda não sabe nada destas coisas e nem dá valor a isto, pelo menos não de forma organizada (creio que por pura soberba e desinformação).

E aí você entende exatamente qual o papel de cada um nesta história toda, inclusive o seu próprio. É só você procurar que encontra. O time da ultra direita já está “esquematizado” e ganhando de goleada, nas palavras do próprio Helio Beltrão: “É como um time de futebol: a defesa é a academia, e os políticos são os atacantes. E já marcamos alguns gols”, diz Beltrão, referindo-se ao impeachment de Dilma. O meio de campo seria “o pessoal da cultura”, aqueles que formam a opinião pública.

E aí? Já achou o seu lugar neste “jogo”?

Por Henrique Mann (com informações de Carlos Krebs)

Sandra Mimy Carpi

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Escola Sem Partido: O Que Isso Significa? * Demerval Saviani - SP

“ESCOLA SEM PARTIDO”: O QUE ISSO SIGNIFICA?



Demerval Saviani - SP



No Brasil o atual governo, resultado de um golpe parlamentar, vem tomando várias iniciativas na direção do abastardamento da educação. A par de medidas como cortes no orçamento, destituição e nomeação de membros do Conselho Nacional de Educação sem consulta, um sinal emblemático da intervenção nos próprios conteúdos e na forma de funcionamento do ensino é o movimento denominado “Escola sem partido” que se apresenta na forma de projetos de lei na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e em várias Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais do país.

O referido projeto é chamado por seus críticos de “lei da mordaça”, pois explicita uma série de restrições ao exercício docente negando o princípio da autonomia didática consagrado na legislação e nas normas relativas ao funcionamento do ensino. A motivação dessa ofensiva da direita tem um duplo componente. 

O primeiro é de caráter global e tem a ver com a fase atual do capitalismo que entrou em profunda crise de caráter estrutural, situação em que a classe dominante, não podendo se impor racionalmente precisa recorrer a mecanismos de coerção combinados com iniciativas de persuasão que envolvem o uso maciço dos meios de comunicação e a investida no campo da educação escolar tratada como mercadoria e transformada em instrumento de doutrinação. 

O segundo componente tem a ver com a especificidade da formação social brasileira marcada pela resistência de sua classe dominante sempre resistente em incorporar a população temendo a participação das massas nas decisões políticas. É essa classe dominante que agora, no contexto da crise estrutural do capitalismo, dá vazão ao seu ódio de classe mobilizando uma direita raivosa que se manifesta nos meios de comunicação convencionais, nas redes sociais e nas ruas. Nesse contexto, se aprovado o projeto da escola sem partido todo o ensino, incluída a formação dos professores, estará atrelado a esse processo de destituição da democracia como regime baseado na soberania popular, colocando o país à mercê dos interesses do grande capital e das finanças internacionais. 

Diante desse quadro volto a advogar a resistência ativa que implica dois requisitos: a) que seja coletiva, pois as resistências individuais não têm força para se contrapor ao poder dominante exercido pelo governo ilegítimo e antipopular; b) que seja propositiva, isto é, que seja capaz de apresentar alternativas às medidas do governo e de seus asseclas. 

Nesse processo de resistência contamos com uma teoria pedagógica cujo entendimento das relações entre educação e política é diametralmente oposto àquele esposado pela “escola sem partido”. Trata-se da pedagogia histórico-crítica.

Para a pedagogia histórico-crítica na sociedade de classes, portanto, na nossa sociedade, a educação é sempre um ato político, dada a subordinação real da educação à política. Dessa forma, agir como se a educação fosse isenta de influência política é uma forma eficiente de colocá-la a serviço dos interesses dominantes. E é esse o sentido do programa “escola sem partido” que visa, explicitamente, subtrair a escola do que seus adeptos entendem como “ideologias de esquerda”, da influência dos partidos de esquerda colocando-a sob a influência da ideologia e dos partidos da direita, portanto, a serviço dos interesses dominantes. Ao proclamar a neutralidade da educação, o objetivo a atingir é o de estimular o idealismo dos professores fazendo-os acreditar na autonomia da educação em relação à política, o que os fará atingir o resultado inverso ao que estão buscando: em lugar de, como acreditam, estar preparando seus alunos para atuar de forma autônoma e crítica na sociedade, estarão formando para ajustá-los melhor à ordem existente e aceitar as condições de dominação às quais estão submetidos. Eis por que a proposta da escola sem partido se origina de partidos situados à direita do espectro político com destaque para o PSC (Partido Social Cristão) e PSDB secundados pelo DEM (Democratas), PP (0Partido Popular), PR (Partido da República), PRB (Partido Republicano Brasileiro) e os setores mais conservadores do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Como se vê, a “escola sem partido” é a escola dos partidos da direita, os partidos conservadores e reacionários que visam manter o estado de coisas atual com todas as injustiças e desigualdades que caracterizam a forma de sociedade dominante no mundo de hoje.

            Enfim, guiados pela pedagogia histórico-crítica, é imperativo organizar a luta contra as medidas do governo imposto após o golpe que afastou a presidente eleita e especificamente contra as propostas do movimento “escola sem partido” e contra tudo o que ele representa. Nessa fase difícil que estamos atravessando, marcada por retrocesso político com o acirramento da luta de classes lançando mão da estratégia dos golpes parlamentares visando a instalar governos ilegítimos para retomar sem rebuços a agenda neoliberal, derrotada nas urnas, resulta imprescindível combatermos as medidas restritivas dos direitos sociais, entre eles, o direito a uma educação de qualidade, pública e gratuita, acessível a toda a população. Essa foi e continua sendo, agora de forma ainda mais incisiva, a nossa luta. A luta de todos os educadores do Brasil. 



O movimento “Escola sem partido” quer passar a ideia da neutralidade da educação em relação à política. No entanto, as sociedades divididas em classes se caracterizam pelo primado da política, o que faz com que a educação seja sempre um ato político, dada a subordinação real da educação à política. E é esse o caso da sociedade brasileira atual. Nesse contexto, agir como se a educação fosse isenta de influência política é uma forma eficiente de colocá-la a serviço dos interesses dominantes. E é esse o sentido do programa “escola sem partido” que visa, explicitamente, subtrair a escola do que seus adeptos entendem como “ideologias de esquerda”, da influência dos partidos de esquerda colocando-a sob a influência da ideologia e dos partidos da direita, portanto, a serviço dos interesses dominantes. Ao proclamar a neutralidade da educação, o objetivo a atingir é o de estimular o idealismo dos professores fazendo-os acreditar na autonomia da educação em relação à política, o que os fará atingir o resultado inverso ao que estão buscando: em lugar de, como acreditam, estar preparando seus alunos para atuar de forma autônoma e crítica na sociedade, estarão formando para ajustá-los melhor à ordem existente e aceitar as condições de dominação às quais estão submetidos. Eis por que a proposta da escola sem partido se origina de partidos situados à direita do espectro político com destaque para o PSC (Partido Social Cristão) e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) secundados pelo DEM (Democratas), PP (Partido Popular), PR (Partido da República), PRB (Partido Republicano Brasileiro) e os setores mais conservadores do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Como se vê, a “escola sem partido” é a escola dos partidos da direita, os partidos conservadores e reacionários que visam manter o estado de coisas atual com todas as injustiças e desigualdades que caracterizam a forma de sociedade dominante no mundo de hoje.