quarta-feira, 29 de março de 2017

Miscigenação * Jorge Magnun Santos - RJ

Miscigenação


                                                      
       Precisamos falar algumas verdades deste país da dita miscigenação.
       Brasil! País forjado na colonização do homem branco que nos impôs a escravização
        do corpo, mas não da alma dos nossos irmãos.
       De um povo preto que era rei em sua terra e livre para viver sem as correntes dessa prisão.
       As algemas, a berlinda, o cepo, o açoite e o tronco, instrumentos herdados e adaptados dos
        tribunais da inquisição, só nos serviram para alimentar o fogo da nossa libertação.
       Que queimou em Palmares, Ambrósio e Carucango e são chamas vivas até hoje nas favelas
        do nosso povão, criadas pela nossa engenharia de auto construção e organização pautada pela
        auto gestão.
       E o que dizer de Gamga Zumba, Zumbi dos Palmares, Carukango, Rainha Tereza e Dandara
        líderes da nossa luta pela emancipação.
       E ENTÃO VEM A HISTÓRIA NOS DIZER COMO FOI NOSSA LIBERTAÇÃO?
        História contada pela mentira da escola, e não pela favela e sob a ótica da nossa versão.
       Quem foi Isabel? Ah uma princesa que nem de longe representa nossos pretos
        que com suor e muito sangue lutaram pela nossa abolição.
       Essa luta que até hoje infelizmente não nos livrou das amarras dessa opressão, já que
        o racismo é estrutural e atinge uma grande parcela preta da população.
       Para os pretos não saber de nossa verdadeira história, só nos gerou máscaras brancas dentro
        da diáspora negra com requintes de ilusão, assim como dizia Fanon.
       Quem é a empregada de hoje? A arrumadeira? A lavadeira? A serviçal? Se não a preta que
        ha séculos atrás trabalhava na casa grande e se aliviava pela sua submissão, já que para ela essa
        era a única saída para tentar se ver livre da violação.
       Que viva! O Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Batuque e todos os nossos orixás, não
        precisamos dos brancos ditando a nossa oração em ancestralidade, pois temos a nossa própria
        religião.
       Pois bem voltando a miscigenação.
       Teorizada por Darcy Ribeiro no mito da morenidade, que mais serve para embranquecer do que
        enegrecer a discussão.
       Já que o moreno não se encaixa culturalmente em nenhuma classificação.
       E por fim é interessante passar essa visão, alguém aí avisa pros brancos  que o seu status de
        branquitute para o povo preto só nos serviu para a criminalização.
       Pois não é atoa que a carne mais barata do mercado é a nossa, que vive morrendo nos becos e
        vielas dessa nação.
       Tentando apenas ser e viver como mais um cidadão.

Autor: Jorge Magnun Santos Martins - RJ

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terça-feira, 28 de março de 2017

Temer e Nós: A Onça e o Jacaré - José Ribamar Bessa Freire (Taquiprati) - SP

Temer e Nós: A Onça e o Jacaré
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Conta a tradição oral que quando a onça ataca o jacaré, ele permanece quieto e impassível enquanto ela começa a devorá-lo pelo rabo. Ouvi essa história na infância sempre acompanhada de comentários indagando por que um réptil tão corajoso, com um focinho avantajado, 80 dentes afiados, que acumula histórias de luta, se entrega covardemente à voracidade de um felino, que tem um volume e um peso muito menor?
Essa narrativa parece fantástica, mas dezenas de estudiosos da Amazônia a confirmam, entre eles o cônego Bernardino de Souza, que testemunhou o fato pessoalmente e achou "incrível o jacaré deixar-se agarrar pela onça e morrer sem oferecer a menor resistência", conforme registrou em "Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas" (1873).
Continua... 
http://www.taquiprati.com.br/cronica/1330-temer-e-nos-a-onca-e-o-jacare 
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domingo, 26 de março de 2017

A Terceirização Irrestrita * Lucas Reis da Silva - SC

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 A Terceirização Irrestrita
Breve análise sob a ótica de um Auditor-Fiscal do Trabalho.

(Proparnaiba)

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*Lucas Reis da Silva
Historiador e Bacharel em Direito.
Auditor-Fiscal do Trabalho.


Tratava-se de um acidente de trabalho fatal na construção civil na região Oeste de Santa Catarina. A chefia de fiscalização me informou o fato e me dirigi ao prédio, ainda com 8 andares onde, do fosso do elevador, se sentia forte cheiro de sangue. Eu nunca havia sentido um cheiro tão forte na minha vida! O acidente que cheguei para analisar ocorrera 3 horas antes da minha chegada e levou a óbito um trabalhador da construção civil (pedreiro).
O empregado morto, que na data anterior tinha trabalhado até as 22hs, no dia do acidente iniciou sua jornada às 7. Antes de iniciar o trabalho de reboco da parede, ele pegou a vassoura e tentou limpar o chão. Não conseguiu! O fosso do elevador não estava adequadamente protegido. Havia apenas uma fina tábua de madeira sobre a qual o empregado pisou enquanto varria o oitavo andar daquele empreendimento de luxo. A tábua não suportou seu peso e ele caiu 8 andares. Morreu na hora!
Depois de lavrar o termo de interdição da obra, entreguei ao preposto da empresa (não ao dono, é claro. Esse, que mais lucra, nem no Brasil se encontrava. Enquanto morriam seus empregados por falta de proteção das periferias de suas obras, ele se encontrava de férias, há alguns meses, na Europa). Pois bem. Depois de entregar o termo de interdição da obra, entreguei ao preposto a notificação para apresentação de documentos, para que eu pudesse proceder à lavratura dos mais de 40 autos que fiz naquela obra. Foi aí que me espantei. O preposto da empresa me disse: "Não. Vou lhe indicar o endereço do funeral do empregado. Lá, você vai deixar a notificação com a esposa do empregado morto. Sabe o que que é? É que ele não era nosso empregado. Ele era um empregado TERCEIRIZADO. Sua esposa, que trabalha junto com ele, também empregada da construção civil, era uma MEI (Micro-empreendedora individual). Ela é micro empresária e o empregado morto, TERCEIRIZADO, é empregado dela. Ela que arcará com os autos de infração. Ela que pagará as multas. Deixa essa notificação com ela. Ela já deve ter se dirigido ao funeral".
Seria cômico se não fosse trágico! A esposa, que chorava a morte do marido assassinado pela fúria do capital na construção civil, ainda teria que arcar com toda responsabilidade trabalhista decorrente do acidente de seu marido. À empresa tomadora, o lucro, apenas o lucro!
Mas é claro que tratava-se de fraude ao vínculo empregatício, o que rendeu à empresa ainda mais um auto de infração. De acordo com a súmula 331 do TST, não poderia haver terceirização na atividade-fim, ou seja, aquela situação estava irregular e ambos, o empregado vítima do acidente fatal e sua esposa eram empregados da construtora e era ela quem deveria arcar com as responsabilidades trabalhistas e administrativas.
Mas ontem, a Câmara dos Deputados mudou isso. Foi o maior ataque aos direitos trabalhistas em pelo menos um século. Depois da sanção presidencial, em se autorizando a terceirização na atividade-fim, não há como imputar à construtora a responsabilidade, como no caso que narrei acima. A responsabilidade será da esposa que chorava sobre o caixão do marido. Tudo isso sacramentado ontem, com a aprovação da terceirização Irrestrita. É o início do desmonte completo da CLT.
O trabalhador "chão de fábrica" já sabe os dramas da terceirização. De acordo com dados do Dieese, trabalhadores terceirizados recebem salário 24% menor do que os trabalhadores contratados de forma direta, apesar de trabalharem, em média, 3 horas a mais por semana. 80% dos acidentes fatais na Petrobrás têm como vítimas trabalhadores terceirizados. De acordo também com o dieese, caso os trabalhadores terceirizados fossem contratados de forma direta, seriam criadas quase novecentas mil vagas de emprego no Brasil. A terceirização mata, desemprega e precariza as relações de trabalho. Em sua faceta mais nefasta, a chamada "pejotização", a terceirizaçao representa a flexibilização completa dos direitos dos trabalhadores.

E tudo isso foi aprovado ontem na Câmara dos Deputados.

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sexta-feira, 24 de março de 2017

O Golpe Contra Os Direitos Sociais * Mário de Andrade Macieira - Ma

O GOLPE CONTRA OS DIREITOS SOCIAIS.


Mário de Andrade Macieira
Advogado. Professor da UFMA. Mestre em Direito pela UFPE. Ex-Presidente da OAB/MA.

Tudo começou quando um espúrio processo de Impeachment derrubou uma presidente legitima, para colocar em seu posto, um vice que urdiu traiçoeiramente, junto com um Congresso fisiológico e reacionário, o golpe na democracia.
Golpeou-se a democracia para implementar um projeto econômico de aniquilação dos Direitos Sociais. Primeiro foi a PEC da Morte, já aprovada e convertida na Emenda 95/2016, que congela por 20 anos a “despesa primária”, conjunto de gastos públicos não destinados ao pagamento de dívidas, justamente para fazer superávit para pagar juros aos bancos.
Ontem foi a Terceirização das Atividades Fim, com drásticas consequências para os trabalhadores. Isso vai produzir demissões, as empresas vão demitir empregados para contratar terceiras que fornecerão mão de obra mais barata, aviltando profissões. 
Outra consequência da “terceirização total” é o enfraquecimento dos sindicatos, imaginem a quantidades de trabalhadores terceirizados prestando serviço próprios de uma determinada categoria profissional (Bancários, por exemplo), sem estarem vinculados ao respectivo sindicato.
Precarizadas as relações de trabalho e enfraquecidos os sindicatos estará aberto o campo para o avanço da destruição dos direitos trabalhistas, a começar pela extinção da Justiça do Trabalho, já proposta. Livre das “amarras” da lei trabalhista o mercado-Deus (Soberano do Estado de Exceção Permanente a que estamos submetidos – Agamben) estará livre para lucrar explorando o trabalho mais barato (é incrível como as pessoas acreditam no engodo de que o custo do trabalho no Brasil é alto, uma das piores desigualdades econômicas do mundo, um salário mínimo de US$ 300,00!). Sem “freios civilizatórios” a exploração estará liberada e “modernizaremos” as relações de trabalho no Brasil, retrocedendo ao período pré revolução industrial (vale lembrar “O Germinal” – Zola). “Modernizar” em “novilingua” (1984 – Orwell) quer dizer ao mesmo tempo trazer para agora o mundo “moderno” do Século XVIII.
Para os próximos capítulos a (Contra) Reforma da Previdência, cujo projeto, a cada vírgula, espanta pelo nível de crueldade social e política nela incrustrados. É a velha vocação escravocrata da “Casa Grande” no Brasil. 

Tudo executado por um governo ilegítimo, controlado totalmente por Corruptos notórios. Donos de privilégios tão arcaicos como os do “ancien regime” querem impor à senzala um Laissez-faire do (neo) liberalismo, dando aos trabalhadores o direito de aceitarem “livremente” as negociações com os patrões. Como lembrou Marx, no mercado, a liberdade e a igualdade dos que nada têm senão sua força de trabalho, é a liberdade de ser escravizado.

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segunda-feira, 20 de março de 2017

A Miséria da Previdência * Carlos Eduardo Novaes - Rj

A MISÉRIA DA PREVIDÊNCIA

A MISÉRIA DA PREVIDÊNCIA –
Um dia minha mãe do alto de seus 90 anos perguntou se eu estava cuidando da minha aposentadoria. Respondi que não, que minha aposentadoria vinha dos meus direitos autorais. Não quero, portanto meter a mão na cumbuca dessa reforma porque nada entendo do assunto. Mas como creio entender um pouco de desigualdade social, olhando da janela de casa percebo, à primeira vista, que estão querendo jogar nas costas do povão a responsabilidade de “salvar” a Previdência.
Ora meus caros a Previdência será salva no dia em que acabarem com os privilégios e as super aposentadorias dos servidores públicos que vivem no andar de cima, como diria Elio Gasperi (parlamentares, governadores, a elite do Judiciário etc). Enquanto a aposentadoria pelo INSS do setor privado não vai alem de R$ 4.66300, no setor publico pode bater no teto de R$ 33 mil. Por aí começa a desigualdade social.
Vejam por exemplo o caso do presidente Michel Temer que se aposentou em 1996 como procurador do estado aos 55 anos. Ou seja, com cinco anos a menos do que a lei atual permite para aposentadorias no setor público (60 anos para homens). Desconheço como fecharam essa conta, - talvez na época a lei fosse outra, talvez algum “artifício” - mas seria interessante que Temer – tão empenhado na reforma – informasse ao país com suas mãozinhas como conseguiu tal antecipação que lhe concede no momento um salário de R$ 30.613,24 (bruto).
O dia em que alguém se dispuser a vasculhar as aposentadorias e pensões no serviço publico da União, - e também dos estados - vai encontrar números escabrosos, fruto dos muitos “penduricalhos” e privilégios com que os políticos vão engordando seu salário. Álvaro Dias ganha 27,8 mil como senador da Republica – fora as mordomias do cargo - mas embolsa outros 24,8 mil de aposentadoria vitalícia por ter governado o Paraná. Total: R$ 51.500,00, o equivalente a 103 trabalhadores que recebem salário-mínimo. Bota desigualdade nisso!
Ou você acha que o desequilíbrio nas contas previdenciárias provem da maioria dos aposentados e pensionistas que recebe 1.303,38 (trabalhador urbano) e 880,84 (rural) – valor médio do INSS em maio de 2016? Segundo pesquisa da Associação dos Serviços de Previdência o país tem 31,5 milhões de aposentados e pensionistas. Desse total, 21 milhões – ou seja, 71,6% - recebe o salário mínimo. Foram eles que quebraram a Previdência?
Carlos Eduardo Novaes em 17/03/2017
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Obs.: Não sei se você prezado leitor vivenciou a constituinte de 1988, mas naquele período a formação de Comitês Populares foi fundamental para fazer as propostas populares chegarem ao Plenário Nacional da Constituinte. Lá, nós delegados, tínhamos que apresentar as propostas saídas de cada lugar do Brasil. Isso se passou por vários dias com os Plenários Populares apresentando as suas propostas. E quando uma proposta encontrava-se com outra igual, os relatores paravam tudo e liam para o plenário o conteúdo de cada uma e assim íamos eliminando as semelhanças. Apenas as propostas diferentes iam para votação. Assim é que temos agora uma Constituição aonde consta os direitos de cada minoria social brasileira. Eu creio que se formarmos Comitês Populares em Nossos bairros para defender a Aposentadoria com 35 anos de contribuição para homens e 30 para mulheres, poderemos dar um basta nos golpistas... 
Está feita a proposta. Meu nome é Antonio Cabral Filho, constituinte do município de São Gonçalo - Rj Whatsapp 21.99947-9208
E_mail- antoniocabralfilho@gmail.com
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sábado, 18 de março de 2017

Operariado (Francisco Ferreira)

Fonte: Pinterest.com (Imagens do Google)

Operariado

A vida é curta
para dias tão longos
de noites brevíssimas...

O peso do cansaço
tenta abotoar meus olhos
de pálpebras flácidas
mas, trabalhar é preciso!
A mulher com boca de capataz
esgoela: “Carpe Diem!”

Vou carpindo minha sina de cavalo cansado
escoiceando esta vida
para garantir os puros-sangues do patrão – haras e harém –,
cavoucando míseros trocados
que “Seu” Político apelidou de salário.
Melhor recebê-los em sal
para temperar a lida diária
embora “Seu” Doutor tenha proibido.

A fome bate á porta,
o despejo ronda o barraco,
a doença invade em várias frentes
e a esperança desbotada
já se mudou par debaixo do viaduto.

Então crio coragem
e envergando a couraça da cachaça vou à luta
 em noites brevíssimas
de dias tão longos
para vida tão curta.

Francisco Petrônio Ferreira de Oliveira

Da Vida Que Resiste * Antonio Cabral Filho - Rj

Da Vida Que Resiste
Vivências De Psicólogas ( os ) Entre a Ditadura e a Democracia.

O livro apresenta as entrevistas realizadas com psicólogos do Estado que vivenciaram a ditadura e têm algo a dizer sobre o terrorismo de estado ou sobre as ações de resistência ocorridas no período da ditadura civil-militar do Brasil (1964 - 1985 ).

Acesse
https://issuu.com/crprs/docs/da_vida_que_resiste

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terça-feira, 14 de março de 2017

Poemas Brasileiros Sobre Trabalhadores * Antonio Cabral Filho - Rj

Poemas Brasileiros
Sobre Trabalhadores -
Uma antologia de domínio público.
Organização:
Antonio Augusto Moreira de Faria
Rosalvo Gonçalves Pinto

Editora UFMG - 2011
http://www.letras.ufmg.br/site/e-livros/poemastrabalhadores-site.pdf 
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Nota

Quero convidar os amigos e os distintos leitores para conhecer a expressão estética de ilustres escritores brasileiros sobre os trabalhadores. São poemas que tratam de nossas vidas de oprimidos pelo sistema capitalista a partir da ótica de autores sobre os quais muito pouco ou nada foi dito até agora enquanto nossos aliados. Quem diria que Alvarenga Peixoto, Tomás Antonio Gonzaga, Machado de Assis algum dia escreveriam sobre nós? Pois é. E a lista não pára aí. Acrescente-se Gregório de Matos, Maria Firmina dos Reis, Luiz Gama, Fagundes Varela, Castro Alves, Vinícius de Morais, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Cruz e souza.

Não consultei as razões por que os organizadores escolheram estes autores para realizar esta antologia, mas creio que devido ao fato de se tratar de poetas detentores dos seus lugares ao sol... Ou seja, se fossem um bando de "cabrais" certamente não receberiam a devida atenção que o tema merece.

Estou lhes deixando o link para acessarem a obra, ao invés de baixá-la e expor aqui. Assim, todos terão oportunidade de lê-la e, se quiserem, baixá-la depois. Meus abraços e ótima leitura!

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