terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Por Que Querem Me Condenar - Luis Inácio Lula da Silva * José Stanislau Filho - Mg

*
  Lula: Por que querem me condenar

Artigo publicado na Folha de S.Paulo
***
"Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um ato desonesto de minha parte.

Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos.

Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar.

Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014, percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e justiça social.

Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a valorização dos salários -em conjunto, proporcionaram a maior ascensão social de todos os tempos.

Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o Brasil quer mais, e não menos direitos.

Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do pleito.

Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma "organização criminosa", e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que "não há fatos, mas convicções".

Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa, talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados e o que apontam como suposto butim do "chefe", evidenciando a falácia do enredo.

Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das instituições. Cheguei a essa conclusão nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória, como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação, colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o BNDES.

De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do direito de defesa.

Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma empresa de fachada, nenhuma conta secreta.

Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios.

A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias surpreendem e causam indignação, bem como a sofreguidão com que são processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção -é grave que as instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem providências contra os abusos.

Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que nunca me pertenceu -e não pertenceu pela simples razão de que não quis comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi, acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal.

Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção, se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas, cobrando preço fixo e recolhendo impostos?

Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.

Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito embora seja um método repugnante de luta. Não é o Lula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil.

É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática.

Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos procuradores que nos acusam.

Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o país.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA foi presidente do Brasil (2003-2010). É presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores)"
(José Stanislau Filho - Mg)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Povo Na Rua É Ato Terrorista? * Antonio Cabral Filho - Rj

Povo Na Rua É Ato Terrorista?
Onde fica a liberdade de expressão, declaração universal dos direitos humanos, a constituição 1988, a dignidade humana, e outros direitos? Querem ressuscitar a Lei de Segurança Nacional da ditadura militar? Ou querem criar alguma LEI MARCIAL?
http://adnews.com.br/midia/correio-braziliense-publica-primeira-pagina-corajosa.html 
***

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Educação X Disciplina Na Escola * Professora Dalva Silveira - UFMG/Mg

 PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO X DISCIPLINA(MENTO) NA ESCOLA
-nerdracionalistablog-

(Abelardo Bento Araújo)

Agora há pouco, encontrei duas colegas no corredor da instituição onde trabalho e começamos a conversar. Não demorou muito e uma delas soltou: “ah, mas esses meninos estão assim porque aqui não tem disciplina. Aliás, não tem mais o ‘disciplinário’”. Pensando bem alto, eu soltei: “Gente, precisamos falar sobre disciplina.” E comecei a falar. Seguem algumas coisas que me lembro de ter falado. Lamento dar esse spoiler, mas a moça não mudou de ideia ante os argumentos meus e da minha colega.

Precisamos muito falar sobre disciplina. Vamos utilizar um exemplo fácil. Vocês estão vendo aquelas pessoas que saqueiam lojas no Espírito Santo? Então, elas são o exemplo mais claro da disciplina vigiada. Quando a polícia dá as costas, elas fazem o que estão fazendo por lá. Antes que alguém acuse “ah, mas tem que ter regra!”, eu adianto: ninguém aqui está defendendo a inexistência das regras. Todo mundo sabe que, para viver em sociedade, precisamos delas. Na escola não é diferente. Mas o que as pessoas não querem entender é que impor regras e vigiar o seu cumprimento não é educar.

Voltemos ao caso do ES, para tentar entender o que é educar e em que âmbito se encontra a tarefa educativa. Para isso, comparemos a polícia e a escola. A presença da polícia em determinado lugar, sem dúvidas, inibe a prática de crimes. No entanto, as pessoas que ali possivelmente praticariam crimes, só fizeram mudar de lugar para praticá-los. Conclusão: a presença da polícia não educou ninguém, porque não agiu para a formação de valores humanos que impedissem a prática de crimes. Apenas impôs medo por um tempo, em determinado lugar.

A intenção não é negar a eficácia da polícia, mas ressaltar que escola, educação, são coisas bem distintas da repressão, imposição, interdito. Ok, ninguém aqui está pensando numa escola que transforme pessoas em zumbis politicamente corretos. Não, não é isso. No entanto, o papel da educação nesse processo aí, que envolve a convivência em sociedade, está ligado à formação de valores humanos. Para existirem e serem respeitadas, as regras precisam, primeiro, fazer sentido para os educandos. Disso decorre que essas mesmas regras precisam ser criadas democraticamente. Aqui, estou tomando a democracia como “convivência pacífica e livre entre pessoas e grupos que se afirmam como sujeitos”. (PARO, 2010, p. 27)***

Enfim, as pessoas por aqui não querem ouvir nada disso. Então, que continuem ̶c̶a̶g̶a̶n̶d̶o̶ impondo regras, enquanto os alunos apenas aperfeiçoam os meios para burlá-las. E sigamos! Vamos ver aonde vai dar.


***PARO, Vitor Henrique. Educação como exercício do poder: crítica ao senso comum em educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
12/02/17, 13:56 - Dalva Silveira - Prof:
*

Cem Anos Depois... * Ayn Rand - USA


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Saída, Onde Está a Saída? * Carlos Eduardo Novaes - Rj

A SAÍDA, ONDE ESTÁ A SAÍDA? * Carlos Eduardo Novaes - Rj


Nós cariocas somos metidos a espertinhos, “malandros” sarados de beira de praia, que convidamos as pessoas para aparecerem lá em casa sem dar o endereço, mas elegemos duas vezes Sergio Cabral para Governador do Estado. Como se não bastasse, nossos representantes na Assembléia Legislativa elegeram por duas vezes – de 2003 a 2010 e em 2015 – Jorge Picciani presidente da Casa. Pois bem, espertinhos, Picciani é o único entre os 70 deputados estaduais na mira da Lava Jato, acusado de corrupção em quatro delações. Com certeza foi escolhido por seus pares para ensinar-lhes como chegar a uma fantástica evolução patrimonial. Lembro do estardalhaço que fizeram quando Pelé disse nos anos 70 que brasileiro não sabe votar. Pelo visto, 40 anos depois continuamos sem saber.
Reduz nossa culpa o fato de a maioria dos nossos políticos se elegerem através de currais eleitorais que alguns ingênuos imaginam só existir no Nordeste, Não conheço uma única pessoa que tenha votado em Eduardo Cunha para deputados federal. Tais currais são formados e mantidos por uma combinação diabólica da falta de consciência política (ou de Educação) com farta doação de mimos ao pobre eleitor (dentaduras, cestas básicas, assistência social etc) distribuídos pelos candidatos com acesso ao esquema de propinas. Ainda chamam a isso de democracia!
O ex-governador Cabral está pegando Sol em Bangu. O presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani é uma figura suspeitíssima. O atual Governador teve seu mandato cassado. O presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes – colocado ali por algum político – foi conduzido coercitivamente a Policia Federal, acusado de receber propinas para aprovar contas. O que nos resta? A Justiça! A Justiça é nossa ultima esperança.
Será? Olho com certa cautela para o Poder Judiciário porque no topo de sua pirâmide – STF – estão magistrados escolhidos por políticos que às vezes não tem o menor pudor em indicar seus “aliados”. Nosso sistema político está podre, em completa decomposição e a tão propalada reforma não vai nos levar a lugar algum. Como confiar em uma reforma política feita por políticos, esses políticos?
Não tem jeito meus caros. Se a Justiça não conseguir limpar a área dessa estrutura corrupta que permeia a politicagem tupiniquim e traz a infelicidade de todos nós, ou partimos para uma revolução como fizeram os franceses, com cadafalso e tudo em praça publica ou lavamos as mãos como Pilatos e entregamos mais do que a alma a Deus.

carlos eduardo novaes em 14/02/2017
https://www.facebook.com/carloseduardo.novaes.16?hc_ref=NEWSFEED&fref=nf 

*

Realidade No Deboche * Grupo Sendeiro das Letras - Rj

Realidade No Deboche


domingo, 12 de fevereiro de 2017

Despindo Palavras * Viviane Mosé - Rj

Despindo Palavras

*

Para Padreco * Fabiano Soares da Silva - RJ

PARA PADRECO:

Quem disse que o eterno é atributo exclusivo do divino?
Veja esse meu amigo querendo nos dar adeus. De nome Carlos Alberto. Foi Carlinhos para muitos.  Foi Padreco para camaradas de longa data. Pois não é que esse amigo quis escapar das garras da eternidade, morrer e ser apenas um simples mais um que um dia se vai.
Bobagem, amigo Carlinhos! Gente como você, faz que vai, mas não vai. Fica por aqui, povoando memórias de quem, como você, lutou e luta por uma vida menos besta do que a oferecida pelos homens do saber mercantilizado. Gente teimosa, como teimoso foi você, camarada Padreco. Teimosia em girar mundo, ir para terras distantes e retornar cheio de sonhos por um país melhor, erguido por mãos lutadoras, como lutadora foi tua mão, meu irmão!
Estivemos juntos na inusitada e saudosa Frente Revolucionária. Isso se deu no início dos anos noventa. Nos debates, você encantava pela ironia mordaz de suas palavras, pela doçura do abraço sincero a cada encontro. Pela ternura ao falar das crianças. A ministrar o Manifesto para sua filha de apenas nove anos.
Técnico em instalações de segurança. Tornou-se pedagogo, o que sempre foi de fato. Pedagogo para além das quatro paredes duma sala de aula que nos ensinou que o homem é ser inconcluso, ser galáctico que ao se expandir toca no outro, ombreia-o e faz o mundo acontecer. Sua vida militante nos mostrou que o homem é a pontinha feliz do universo, pois neste introduz os sonhos. E o que é o universo sem os sonhos? Um amontoado de estrelas frias e mortas e nada mais.
A Frente Revolucionária sucumbiu aos sectarismos próprios duma esquerda fratricida e despreparada para a tomada do poder. Carlinhos continuou mestre pela vida afora..., mestria que se eterniza em cada rebeldia que se desponta hoje e amanhã por ruas, praças, favelas e ocupações dos empobrecidos em meio às bonança.
Desde Sampa, receba essas calorosas palavras, camarada Padreco!
Do seu, sempre, camarada Carlos. Ou seria Antunes?  

11/02/2017.

Poema para Padreco



Fabiano Soares da Silva

Camaradas
Alguns homens e mulheres
Fazem das palavras
Belas poesias sobre a vida.fazem das palavras
Mas, existem também Homens e mulheres Que fazem da sua vida
Impossíveis de transcrevê-las em palavras.
Outras poesias ainda mais belas Esses e essas Estão sempre ao lado
Possam viver
Não deixam a gente esquecer Que a poesia mais bela É ainda Aquela em que todos e todas
Fabiano Soares da Silva
Por isso nunca desistem de sorrir enquanto lutam Por um mundo livre E menos feio.
Saudações, camarada Carlinhos!!!!


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Solano Trindade * Antonio Cabral Filho - Rj



Solano Trindade – tem gente com fome!


Quando nasceu, no Recife (PE), a escravidão havia sido abolida há vinte anos. Mas o racismo era a realidade permanente, que enfrentou desde menino. Mais tarde, usou sua arte múltipla para denunciar o racismo, as discriminações, e a luta do povo para enfrentar essas mazelas. Filiado ao Partido Comunista, foi perseguido e a polícia invadiu sua casa inúmeras vezes, desde o a época do governo do general Eurico Gaspar Dutra, na década de 1940.

Foi um militante cultural notável, e desde a década de 1930 participou da criação de organizações da luta do povo, como a Frente Negra Pernambucana, o Centro de Cultura Afro-Brasileiro, o Comitê Democrático Afro-Brasileiro, o I Congresso Afro-Brasileiro, o Teatro Experimental do Negro, Teatro Folclórico Brasileiro, o Teatro Popular Brasileiro, entre inúmeras outras.

Leia na íntegra: 

Poemas da luta do povo

Tem gente com fome
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
pra dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiii

estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio do ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuu


Sou Negro

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação


Canta América

Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador...


Conversa

- Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê...

- Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
- Plantei os canaviais do nordeste

- E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.

- Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro

- Eu...
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.

Eita! quanta coisa
tu tens pra contar...
não conta mais nada,
pra eu não chorar -

E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá...

Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.


Eu gosto de ler gostando

Eu gosto de ler gostando,
gozando a poesia,
como se ela fosse
uma boa camarada,
dessas que beijam a gente
gostando de ser beijada.

Eu gosto de ler gostando
gozando assim o poema,
como se ele fosse
boca de mulher pura
simples boa libertada
boca de mulher que pensa...
dessas que a gente gosta
gostando de ser gostada.


Olorum ÈKE

Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu sou poeta do povo
Olorum Ekê

A minha bandeira
É de cor de sangue
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Da cor da revolução
Olorum Ekê

Meus avós foram escravos
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu ainda escravo sou
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Os meus filhos não serão
Olorum Ekê
Olorum Ekê


Nem só de poesia vive o poeta

Nem só de poesia vive o poeta
há o “fim do mês”
o agasalho
a farmácia
a pinga
o tempo ruim, com chuva
alguém nos olhando
policialescamente
De vez em quando
um pouco de poesia
uma conta atrasada
um cobrador exigente
um trabalho mal pago
uma fome
um discurso à moda Ruy
E às vezes uma mulher fazendo carinho
Hoje a lua não é mais dos poetas
Hoje a lua é dos astronautas.

(Este poema permaneceu inédito até 2008, quando foi revelado por sua filha Raquel).
Do Portal Vermelho, José Carlos Ruy (http://www.vermelho.org.br/noticia/273039-1 )

***

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Dia a Dia * Jorge Magnun Santos Martins - Rj

Dia a Dia - Jorge Magnun Santos Martins - Rj

(Foto: O Globo)

Acordo na confusão do dia-a-dia, 
sem tempo para entender nem mesmo o acordar e o porquê de estar de pé nesse dia.
Desperto com a certeza, adentrando na incerteza de que a chibata que rasgou as costas da minha ancestralidade é a mesma que me ameaça no meu dia-a-dia em minha territorialidade.
Mano, o dia começa com a notícia de uma mídia independente da favela presente, de um irmão, vítima de mais uma ação do Estado caveirão.
E aí, lembro que esse irmão que se materializa em mais um número para a sociedade, é o mesmo amigo do dia-a-dia, que dava aquele rolé nos bailes e as vezes na periferia, descendo o morro para tentar ser aceito nessa mesma sociedade que o introduziu aos poucos um pouco de sua desumanidade.
E esse mesmo irmão que tinha nome e sobrenome, uma vida, sonhos e conquistas travados pela bala que canta de uma mira de um Estado fascista e genocida, passa para uma outra dimensão, nesses segundos de uma ensurdecedora escuridão e solidão.
E nesse momento me vem a reflexão, que eu poderia estar no lugar desse irmão.
Por que não?
Quantos irmãos morrem no dia-a-dia, na favela e na periferia sem enxergar essa visão.
Que nosso inimigo é esse Estado Eugenista, Jesuíta, tingindo na espetaculização de uma criminalização da pobreza repercutida e reproduzida na Televisão, na Religião e na vida de cada dito cidadão.
E daí paro e penso no quanto longe eu viajei da nossa realidade, com essa análise muito intensa e bem descrita para os livros da faculdade.
Mas que na moral não da conta da nossa verdade do dia-a-dia, que não é recheada de poesia e compostas de palavras bonitas, ao primeiro som dos traçantes e estrondo das granadas de mais uma operação, com camburão e caveirão, salve-se quem puder meu irmão.
Não descrevem o medo nos olhos das crianças e principalmente de suas mães, que sabem que nesse momento estão a mercê de viver um dia, um mês, um ano, uma vida na completa solidão de perder alguém tão próximo, filho, neto, bisneto, sobrinho, que enfim pra mim vai ser sempre mais um irmão.

Autor. Jorge Magnun Santos Martins

***

Diga NÃO À Reforma da Previdência * Grupo Sendeiro das Letras

DIGA NÃO À REFORMA DA PREVIDÊNCIA

***

Tempos De Lutas - Crônica * J. Stanislau Filho - Mg

*
Tempos de Lutas
google
*
"
Em Belo Horizonte, a avenida João Pinheiro nasce na Liberdade e chega ao Direito. Liberdade é praça. Direito, faculdade. Caminho natural, desde sempre, de políticos, poetas, músicos, escritores, jornalistas, sonhadores. Na segunda metade da década de 60, a ditadura militar estava plantada e sendo adubada para crescer e aparecer como a terrível planta carnívora devoradora de cabeças pensantes de professores, estudantes, artistas, políticos, religiosos e operários do país. Em frente à Faculdade de Direito, em um apartamento no Condomínio Solar, um grupo de jovens se reunia para debater política e organizar ações de combate à ditadura, pela volta da democracia, da liberdade de expressão, dos direitos civis. A menina Dilma estava entre eles. A quatro quarteirões dali, na mesma avenida, na lanchonete Xodó – point da moçada na época –, um grupo de jovens se reunia pra tomar sorvete, falar de moda, de carros, de paqueras, de Beatles e Rolling Stones. Eu estava entre eles. A menina Dilma estudava no Colégio Estadual. Eu também. Certamente nos esbarramos na subida de sua famosa rampa niemeyeriana. Eu dobrei à direita (pela localização da minha sala). Ela, à esquerda (predestinação?). Eu entrei pela porta da arte, da criação. Ela, sem que ninguém o soubesse, seguiu na luta para que pudéssemos ler, escrever, compor, dizer o que quiséssemos – para que fôssemos livres. Foi presa, humilhada, torturada. Ela e um grupo de heróis. Meus heróis. Não tenho o que fazer a não ser agradecê-los e me desculpar em nome dos que ainda ousam chamá-los guerrilheiros como ofensa. Como se, por ignorância ou desinformação histórica, não conhecessem a grandeza da luta de guerrilha (Bom dia, Vietnam!). Enquanto eu e meus amigos dançávamos, nos divertíamos, a menina Dilma e seu grupo arriscavam suas vidas por nós, pelo país. Há quatro anos, Niemeyer lhe estendeu outra rampa e ela a subiu para continuar lutando. Nesses anos todos, cresci, estudei, trabalhei, envelheci. Eu e minha turma do Xodó. Estamos bem. Moramos bem. Vivemos bem. A menina Dilma continua na luta. Portanto, por questão de justiça, vote nela. Não vote em mim.
Marcelo Xavier "
J.Stanislau Filho - Mg
http://jestanislaufilho.blogspot.com.br/ 
***
*

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Não Me Façam De Tolo * Francisco Ferreira - Mg

Não me Façam de Tolo * Francisco Ferreira - Mg



O que eu não posso respeitar e nem aceitar é uma oposição derrotada, que se vale da mídia, para fomentar a perseguição a dois governantes que fizeram pela classe menos favorecida da Nação, o que a elite não fez em toda a história. A quem tirou milhões de brasileiros da linha da miserabilidade, a quem abriu as portas das universidades para milhões de brasileiros que não teriam chance de ingressá-las. Não discuto se houve erros, e nem que possa haver corrupção; e que, em havendo, não devam ser investigados e julgados com isenção e isonomia  Mas que não se queira tapar o sol com a peneira e esquecer mais de 500 anos de bandalheiras, patrocinadas principalmente por aqueles que hoje se transvestem de paladinos da justiça, da ética e da moralidade. Até porque, "nunca antes na história deste país" a justiça e a polícia tiveram tanta autonomia para investigar a tudo e a todos. O que não posso aceitar é que as tais manifestações tenham a presença, em lugares de destaque, de homofóbicos, intolerantes religiosos, favoráveis à ditadura e ao fascismo e políticos de direita notoriamente corruptos, bancando os heróis desta pobre Nação sem memória. 

Crônica Sob Preção / Luis Fernando Veríssimo * Por Dalva Silveira - Mg

Crônica Sob Preção
-Wikipedia-

Por Dalva Silveira - Mg


Esse Veríssimo é genial...


*


"Eu tomo um remédio para controlar a pressão.
Cada dia que vou comprar o dito cujo, o preço aumenta.
Controlar a pressão é mole. Quero ver é controlar o 'preção.'
Tô sofrendo de 'preção' alto.
O médico mandou cortar o sal. Comecei cortando o médico, já que a consulta  era salgada demais.
Para piorar, acho que tô ficando meio esquizofrênico.
Sério!
Não sei mais o que é real.
Principalmente, quando abro a carteira ou pego extrato no banco.
Não tem mais um Real.
Sem falar na minha esclerose precoce. Comecei a esquecer as coisas:
Sabe aquele carro? Esquece!
Aquela viagem? Esquece!
Tudo o que o presidente prometeu? Esquece!
Podem dizer que sou hipocondríaco, mas acho que tô igual ao meu time:
- nas últimas.
Bem, e o que dizer do carioca? Já nem liga mais pra bala perdida...
Entra por um ouvido e sai pelo outro.
Faz diferença...
'A diferença entre o Brasil e a República Checa é que a República Checa tem  o governo em Praga e o Brasil tem essa praga no governo'
'Não tem nada pior do que ser hipocondríaco num país que não tem remédio'."



(LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO)

*

Ulisses Guimarães: Pela Democracia * Antonio Cabral Filho - Rj

Ulisses Guimarães, 
o careca abaixo, é o cara que promulgou a constituição de 1988, e, talvez por seu discurso burguês-radical, foi para os ares com avião e tudo, no mar de Angra dos Reis - Rj, em 12 de outubro de 1992, junto com o piloto, o Senador Severo Gomes e as respectivas esposas. O corpo de Ulisses Guimarães é o único que nunca foi encontrado.
Frases de efeito como "A única coisa que mete medo em político é o povo na rua" eram ditas por ele nos carros de som dos atos públicos em todo o país pela democracia, pela constituinte, pela anistia e pela liberdade, devido à brutal censura à liberdade de imprensa que imperou no país durante a ditadura militar.
*

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Greve De PM-ES: Mais Um Tumor No Corpo Do Moribundo Brasil * Antonio Cabral Filho - Rj

Tabela de Salário do soldado pm/bm



Essa é a situação agora em todo o país. Claro que o salário não justifica  o crime organizado comandando as forças de segurança do país, mas serve como forte argumento para a corrupção: "Ah! Os caras ganham uma miséria!" Esse discurso não avança nada e o que faz piorar tudo isso é o congelamento compulsório justificado pela baixa arrecadação fiscal. Aliás, outra falácia! 
*