Blog dedicado ao debate entre escritores de esquerda. Editor: Antonio Cabral Filho - E_mail: acftoto136@gmail.com
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
sábado, 1 de dezembro de 2018
Companheiras e Companheiros * Luiz Inácio Lula da Silva - SP
Companheiras e companheiros,
Do fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo
eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade
democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a cada militante do
nosso partido, pela generosidade e coragem diante da mais sórdida campanha que
já se fez contra um partido político neste país.
Agradeço à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por
terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado minha
candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado totalmente,
com muita força, na candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à
missão que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência
e o preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido
internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com
muita lealdade nessa jornada.
Saúdo os quatro governadores que elegemos, em especial a companheira Fátima
Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição mas não desistiram da luta
nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e deputados eleitos e todos os que,
generosamente, se lançaram candidatos, fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47 milhões de votos no
segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram
contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante partido popular deste
país. E isso nos coloca diante de imensas responsabilidades.
O povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da esperança, o que
significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos
trabalhadores e do povo que mais precisa. Tudo isso está ameaçado pelo futuro
governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel
Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em
quem desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa
farsa judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me afastar do
processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu
uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em tratado internacional,
para impedir minha candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no submundo da internet,
orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por um caixa dois de
dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É simplesmente vergonhoso
para o país e para a Justiça Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido
aprovadas diante de tantas evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova
da seletividade de um sistema judicial que persegue o PT.
Se alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sergio Moro contra mim
e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de
um governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou
no político que dizia não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua
verdadeira natureza.
Eu não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a
perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários
e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em
mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende
descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos
nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês
depois das eleições.
Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na
verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros,
pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi
patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado
norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado
no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no
sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo
Temer.
Não teve coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar
conosco suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos,
as políticas sociais, a política externa. E vai executar um programa
ultraliberal, de entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos
eleitores e muito menos aprovado nas urnas.
Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a indignação com a
corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem respostas concretas para
nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para segurança é armar
as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo, porque Sergio Moro e a
Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da Petrobrás. A maioria está
solta ou em prisão domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim,
Bolsonaro é, de fato, o representante do sistema político tradicional, que
controla a economia e as instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas
promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de
estar preparados para continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras soluções
para o Brasil, pois acredito que, por mais que queiram, não vão conseguir
destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os direitos do povo, em
tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer
agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos, com a responsabilidade de
sermos o maior partido político do país.
E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos
grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos atuar em
conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo
democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem
do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown. Não podemos ter
medo do futuro porque aprendemos que o impossível não existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva -
desde a cela da Polícia Federal em Curitiba
encarcerado sem nenhuma prova
***
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