sábado, 29 de abril de 2017

A Rede Da Legalidade Contra o Golpe * Rodrigo Vianna - Br

A Rede Da Legalidade Contra o Golpe
Rodrigo Vianna
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A Rede da Legalidade contra o Golpe:
Via Rodrigo Vianna:


O condomínio jurídico-midiático-policial levou a polarização política a um ponto de radicalização sem retorno. Nesta guerra aberta contra a Legalidade, contra o Estado Democrático de Direito e contra a Constituição, não terá empate e mediações – um lado terá de vencer.
A história brasileira comprova que o reacionarismo nunca hesitou em empregar todos os métodos – inclusive totalitários e fascistas – para conspirar e destruir governos democrático-populares, nacionalistas e progressistas. A história testemunha ainda que aqueles que não confrontaram e não resistiram até o final às empreitadas golpistas, foram esmagados pelos algozes da democracia.
A sociedade brasileira está hoje em estado de fervura; foi dividida, polarizada e convulsionada por obra e graça do condomínio jurídico-midiático-policial – aliança obscurantista integrada por justiceiros do Ministério Público, do Judiciário e da Política Federal com uma mídia que perdeu todos os escrúpulos. Eles se consideram acima das Leis e da Constituição, subvertem a ordem jurídica e democrática e espezinham as conquistas oitocentistas do devido processo legal e do Estado Democrático de Direito para imporem, em lugar disso, um regime totalitário, de exceção, de perseguição de inimigos ideológicos.
O governo Dilma é o empecilho que precisam eliminar. Assim ficam livres para viabilizar um novo acordo de poder e de dominação capitalista no país centrado no controle das riquezas nacionais [o Petróleo, acima de tudo] e das fontes energéticas, na mercantilização dos direitos sociais, na entrega da soberania nacional, produtiva e tecnológica, e na exclusão social.
O condomínio jurídico-midiático-policial dá as cartas deste jogo. Substituiu um sistema político totalmente desmoralizado e é hoje o Comando estratégico do golpe. Nos últimos dois anos, as jogadas decisivas do xadrez político, muitas das quais abalaram o sistema político, não foram feitas pela oposição partidária, institucional, mas operadas por procuradores, policiais federais, magistrados conspiradores e os órgãos golpistas da imprensa.
Pretendiam dar o golpe de misericórdia no dia 4 de março, mas o plano de prisão arbitrária do ex-Presidente Lula foi interceptado pela ação da Polícia da Aeronáutica, que não permitiu que a aeronave da Polícia Federal decolasse do Aeroporto de Congonhas/SP para Curitiba, onde, curiosamente, o Deputado Jair Bolsonaro esperava com foguetório o desembarque de um Lula preso, humilhado e ultrajado.
A partir do 4 de março a estratégia do golpe ganhou nova qualidade; houve uma escalada jurídico-midiático-policial de altíssima intensidade com dois objetivos claros: [i] o primeiro, de legitimar e naturalizar os desvios, abusos, violências e inclusive crimes contra o ordenamento jurídico cometidos pela força-tarefa da Operação Lava Jato; e [ii] o segundo objetivo, de incendiar e convulsionar a sociedade para aumentar a adesão militante e ativista da classe média pró-golpe.
Com a nomeação do ex-Presidente Lula para a Casa Civil, o Comando assumiu caninamente o protagonismo e a direção da luta política, porque conhecem o poder do Lula em ajudar Dilma a recompor a estabilidade política e social do país para retomar uma estratégia de desenvolvimento com igualdade, distribuição de renda e crescimento.
O Juiz Sérgio Moro cometeu um crime premeditado calculando a relação custo-benefício: a ilegalidade do grampeamento telefônico da Presidente da República, que custaria a carreira profissional de qualquer agente público num ambiente de normalidade democrática, produziu as conseqüências políticas esperadas. O efeito foi terrivelmente devastador tanto para Lula como para Dilma. A Justiça, se algum dia de fato for feita, até poderá atestar a índole criminosa de juízes que usam a toga para a prática do gangsterismo político. Entretanto, a lesão política e de imagem para o Lula já é irreversível e irremediável.
É ilusório pensar que a estratégia deles nasceu agora, que brotou espontaneamente. Alimentar esta ilusão é tão ingênuo quanto pensar que o nazismo nasceu no Holocausto. O Holocausto foi a evolução anti-civilizacional duma atmosfera nazista que foi sendo naturalizada e subjetivada na consciência da sociedade alemã através de técnicas eficientes de propaganda nazista desenvolvidas desde décadas antes.
Esta estratégia vem sendo meticulosamente articulada no Brasil, inclusive com aporte estrangeiro de inteligência e dinheiro. As chamadas jornadas de 2013 foram instrumentalizadas para que a direita camuflada em ONGs e movimentos suspeitos [Brasil Livre, Vem pra Rua etc] também passassem a ocupar as ruas, território de luta historicamente ocupado pelo povo na luta por direitos, liberdade e democracia.
A emergência de movimentos fascistas com presença nas ruas é o ingrediente diferencial desta conjuntura histórica. O golpe do impeachment é legitimado com a falácia da “adesão popular”, da “força espontânea que brota das ruas”.
As ruas finalmente estão espelhando o cotidiano subterrâneo e sombrio de comunidades fascistas do facebook que existem às pencas. E este é o grande segredo da construção desta subjetividade messiânica, cínica, superficial, fanática, racista, despolitizada, odiosa, intolerante, anti-petista.
Após 2013, os padrões obscuros de comportamento que transitam nas redes sociais – racismo, messianismo, anti-petismo, homofobia etc – saíram do mundo digital e passaram a freqüentar as ruas, onde adquiriram naturalidade e legitimidade. Eles hoje se sentem encorajados e estimulados [a imprensa enaltece este espírito cívico] em levar às ruas pedidos de intervenção militar, incitação ao ódio, xingamentos e ataques a pessoas que vestem roupas vermelhas ...
As conquistas civilizatórias [e as liberais-burguesas] da democracia, do Estado Democrático de Direito, do devido processo legal, da obediência à Constituição e às Leis, da pluralidade, da diversidade, estão sendo vivamente destruídas neste momento de regressão jurídica e democrática da Nova Inquisição.
A Rede Globo aposta que chegou o momento. Acredita que estão reunidas as condições objetivas e subjetivas para acelerar o golpe. Por isso, promove uma guerra de tudo ou nada contra Lula e Dilma.
O golpismo repete a fórmula do grande expoente do fascismo nacional, Carlos Lacerda: como não conseguiram derrotar Dilma nas urnas em 2014, tentaram impedir sua posse colocando em dúvida a votação eletrônica; uma vez empossada no cargo, tentaram evitar que assumisse, questionando as contas da campanha; e, uma vez assumindo o governo, sabotam o país e fazem de tudo para inviabilizar seu governo.
É o que estão fazendo novamente agora, tentando cassar a prerrogativa constitucional da Presidente da República nomear e exonerar os ministros do seu governo. Lula mal foi empossado como Ministro e o condomínio jurídico-midiático-policial – o Comando – desatou uma campanha midiático-judicial para anular sua posse.
O Jornal Nacional da noite de ontem, 17 de março, dedicou 68 minutos do horário nobríssimo da televisão brasileira para achincalhar, humilhar e destruir Lula. Fez uma edição primorosa; fez uma aplicação científica dos ensinamentos totalitários de Goebbels; não deixou pedra sobre pedra.
O Comando não quer somente inviabilizar o Lula na eleição de 2018, porque quer destruir a biografia dele; quer dizimá-lo, bani-lo da história e da memória.
Chegamos num estágio derradeiro da luta pela sobrevivência da democracia no Brasil. O condomínio jurídico-midiático-policial “venezuelizou” o país; instalou aqui a mesma dinâmica fascista da oposição venezuelana apoiada, que lá é apoiada e financiada pelo governo norte-americano e agências internacionais conspiradoras.
Os órgãos dominantes de comunicação – a estas alturas, não só a Globo, mas também outros grupos de mídia – atuam abertamente na construção de uma narrativa golpista, e não oferecem uma plataforma democrática e plural para o esclarecimento, para o contraponto e para a desmistificação da realidade. A mídia não permite sequer a dissonância cognitiva entre seus jornalistas, que reproduzem delírios sem o menor senso crítico e analítico.
Ao governo e ao campo democrático-popular só existe uma opção: lutar, resistir para vencer! O governo não tem tempo a perder, deve defender a Constituição com energia e tenacidade. Esta hora exige medidas de emergência contra os ataques fascistas que, se não forem contra-arrestados, instalarão o caos no país.
Nesta guerra que o condomínio jurídico-midiático-policial promove, é essencial o governo ter voz própria para informar a população com a verdade e com os fatos; ter canais para disputar a narrativa dos acontecimentos e transmitir informações contra-golpistas ao conjunto do povo brasileiro e também aos setores democráticos em todo o mundo.
O governo deveria suspender imediatamente os gastos com publicidade e anúncios feitos na mídia golpista para canalizar todos esses recursos para a constituição de uma poderosa Rede da Legalidade contra o Golpe, com rádios e TVs convencionais e na internet, jornais e folhetins impressos com edições diárias [se necessário, mais de uma edição diária] com distribuição massiva em todo o país etc.
O Brasil está numa daquelas encruzilhadas da história que exigem respostas à altura dos acontecimentos. O golpe foi acelerado no dia 4 de março, e os “camisas-pretas” fascistas não deixam dúvidas que travam a batalha final.

Obs.: Estou postando este artigo aqui apenas a título de reflexão para que os companheiros consolidem suas visões sobre as articulações da direita na formatação do golpe. ACF.
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