Camarada, não me importa se você se envolveu na corrupção, de maneira ativa ou passiva, se fez caixa dois para o partido, ou lá o que tenha sido.
Joga-se com as regras do jogo, sob pena de eliminação, de ficar de fora da decisão.
Todos os que o acusam servem-se das mesmas regras e fazem o mesmo, fazendo conosco agora o que tivemos a ética de não fazer com eles quando éramos poder.
O motivo do medo deles ficou explícito nas declarações do Dalagnol, o aprendiz de procurador, segundo Gilmar Mendes, ao afirmar que há o risco de você voltar ao crime.
Você não seria leviano a ponto de voltar a mexer com finanças, e mais leviano seria quem esperasse isso de você. O crime a que Dalagnol e correligionários temem é o de rearticular o partido e reaglutinar a esquerda, repetindo o já feito.
Sim, você é o nosso rei no tabuleiro do xadrez político, porque síntese de Lula e Dilma, e aí a urgência deles em deixá-lo em xeque mate.
Sim, camarada. Lula tem em si um natural espírito de liderança, uma capacidade extraordinária de negociar, a paciência de Jó, e o compulsório estágio na miséria, na infância, o fez de profundo amor aos pobres, fincando sólidas raízes no nacionalismo, mas peca pela ausência de embasamento teórico.
Tudo em Lula é instintivo ou aprendizado na luta, praticando.
Já Dilma é o oposto, embasada em leitura revolucionária e ocupação técnica, fez-se crítica e fria, sem a passionalidade da militância de longos costados, o que não é defeito ou demérito, mas estilo.
Complementam-se sem se completarem porque são dois, e a velha fórmula quem nos deu foi o velho barbudo, a práxis, fusão da teoria e prática em um só, e aí... José Dirceu, o que o fez o estrategista que permitiu a chegada do PT ao poder, continuando depois como eminência parda dos governos de Lula, articulando nos bastidores.
Só teoria, um intelectual progressista; só prática, um militante progressista; teoria e prática, um revolucionário.
A direita medíocre sabe disso por instinto, a direita letrada, por dedução, e aí o temor que têm de você.
Tivesse Lula ouvido você, Gushiken e Franklin Martins, quando ele tinha 84% do povo brasileiro e praticamente todo o Congresso Nacional, teriam vindo a Lei da Mídia e as reformas em moldes outros, diferentes das covardias de Temer.
Mas ele acreditou em conciliação de classes, na bondade dos mercenários, na possibilidade de acordos entre escravos e senhores e optou pelo Lulinha Paz e Amor. Não os convenceu.
Mas nem tudo está perdido, tudo é possibilidade de aprendizado, e em Lula a capacidade de aprender com a adversidade é infinita.
A direita brasileira matou o Lulinha Paz e Amor, agora com a consciência de que há adversários e inimigos e não só adversários, como um dia ele pensou. O que vem aí é outro Lula, com larga experiência e, agora, muito mais consciência.
Por isso a direita brasileira sabe que a sua sobrevivência depende da neutralização de José Dirceu e Lula. Por isso a necessidade de reconduzi-lo à cadeia e inviabilizarem a candidatura do Lula. De outra maneira a direita amargará pelo menos mais duas décadas na platéia, se não for alijada em definitivo da nossa história, por força revolucionária.
Cuide-se, camarada.
Por fim, o que parece elogio, mas é reconhecimento: dois anos de cárcere, dois longos anos de cárcere, em condições profundamente adversas, o diabo da guarda tentando: delata, faz o acordo da delação premiada, não segure sozinho, você está preso pelo seu silêncio, 70 anos de idade, mais nada a perder, já deu a sua contribuição à história, denuncie, entregue, dedure, delate... E você não entregou camaradas, não entregou companheiros, não entregou adversários, não entregou inimigos e isto os fracos, os frouxos, os de caráter duvidoso jamais perdoarão.
Como afirmou o poeta Caetano Veloso, “Narciso odeia tudo o que não é espelho”.
A sua existência é uma humilhação para eles.
Saudações revolucionárias, camarada.
Francisco Costa
http://aldeianago.com.br/artigos/7-cidadania/16142-conversando-com-dirceu-por-francisco-costa
Rio, 03/04/2017."
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