quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Educação X Disciplina Na Escola * Professora Dalva Silveira - UFMG/Mg

 PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO X DISCIPLINA(MENTO) NA ESCOLA
-nerdracionalistablog-

(Abelardo Bento Araújo)

Agora há pouco, encontrei duas colegas no corredor da instituição onde trabalho e começamos a conversar. Não demorou muito e uma delas soltou: “ah, mas esses meninos estão assim porque aqui não tem disciplina. Aliás, não tem mais o ‘disciplinário’”. Pensando bem alto, eu soltei: “Gente, precisamos falar sobre disciplina.” E comecei a falar. Seguem algumas coisas que me lembro de ter falado. Lamento dar esse spoiler, mas a moça não mudou de ideia ante os argumentos meus e da minha colega.

Precisamos muito falar sobre disciplina. Vamos utilizar um exemplo fácil. Vocês estão vendo aquelas pessoas que saqueiam lojas no Espírito Santo? Então, elas são o exemplo mais claro da disciplina vigiada. Quando a polícia dá as costas, elas fazem o que estão fazendo por lá. Antes que alguém acuse “ah, mas tem que ter regra!”, eu adianto: ninguém aqui está defendendo a inexistência das regras. Todo mundo sabe que, para viver em sociedade, precisamos delas. Na escola não é diferente. Mas o que as pessoas não querem entender é que impor regras e vigiar o seu cumprimento não é educar.

Voltemos ao caso do ES, para tentar entender o que é educar e em que âmbito se encontra a tarefa educativa. Para isso, comparemos a polícia e a escola. A presença da polícia em determinado lugar, sem dúvidas, inibe a prática de crimes. No entanto, as pessoas que ali possivelmente praticariam crimes, só fizeram mudar de lugar para praticá-los. Conclusão: a presença da polícia não educou ninguém, porque não agiu para a formação de valores humanos que impedissem a prática de crimes. Apenas impôs medo por um tempo, em determinado lugar.

A intenção não é negar a eficácia da polícia, mas ressaltar que escola, educação, são coisas bem distintas da repressão, imposição, interdito. Ok, ninguém aqui está pensando numa escola que transforme pessoas em zumbis politicamente corretos. Não, não é isso. No entanto, o papel da educação nesse processo aí, que envolve a convivência em sociedade, está ligado à formação de valores humanos. Para existirem e serem respeitadas, as regras precisam, primeiro, fazer sentido para os educandos. Disso decorre que essas mesmas regras precisam ser criadas democraticamente. Aqui, estou tomando a democracia como “convivência pacífica e livre entre pessoas e grupos que se afirmam como sujeitos”. (PARO, 2010, p. 27)***

Enfim, as pessoas por aqui não querem ouvir nada disso. Então, que continuem ̶c̶a̶g̶a̶n̶d̶o̶ impondo regras, enquanto os alunos apenas aperfeiçoam os meios para burlá-las. E sigamos! Vamos ver aonde vai dar.


***PARO, Vitor Henrique. Educação como exercício do poder: crítica ao senso comum em educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
12/02/17, 13:56 - Dalva Silveira - Prof:
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