quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Tempos De Lutas - Crônica * J. Stanislau Filho - Mg

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Tempos de Lutas
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Em Belo Horizonte, a avenida João Pinheiro nasce na Liberdade e chega ao Direito. Liberdade é praça. Direito, faculdade. Caminho natural, desde sempre, de políticos, poetas, músicos, escritores, jornalistas, sonhadores. Na segunda metade da década de 60, a ditadura militar estava plantada e sendo adubada para crescer e aparecer como a terrível planta carnívora devoradora de cabeças pensantes de professores, estudantes, artistas, políticos, religiosos e operários do país. Em frente à Faculdade de Direito, em um apartamento no Condomínio Solar, um grupo de jovens se reunia para debater política e organizar ações de combate à ditadura, pela volta da democracia, da liberdade de expressão, dos direitos civis. A menina Dilma estava entre eles. A quatro quarteirões dali, na mesma avenida, na lanchonete Xodó – point da moçada na época –, um grupo de jovens se reunia pra tomar sorvete, falar de moda, de carros, de paqueras, de Beatles e Rolling Stones. Eu estava entre eles. A menina Dilma estudava no Colégio Estadual. Eu também. Certamente nos esbarramos na subida de sua famosa rampa niemeyeriana. Eu dobrei à direita (pela localização da minha sala). Ela, à esquerda (predestinação?). Eu entrei pela porta da arte, da criação. Ela, sem que ninguém o soubesse, seguiu na luta para que pudéssemos ler, escrever, compor, dizer o que quiséssemos – para que fôssemos livres. Foi presa, humilhada, torturada. Ela e um grupo de heróis. Meus heróis. Não tenho o que fazer a não ser agradecê-los e me desculpar em nome dos que ainda ousam chamá-los guerrilheiros como ofensa. Como se, por ignorância ou desinformação histórica, não conhecessem a grandeza da luta de guerrilha (Bom dia, Vietnam!). Enquanto eu e meus amigos dançávamos, nos divertíamos, a menina Dilma e seu grupo arriscavam suas vidas por nós, pelo país. Há quatro anos, Niemeyer lhe estendeu outra rampa e ela a subiu para continuar lutando. Nesses anos todos, cresci, estudei, trabalhei, envelheci. Eu e minha turma do Xodó. Estamos bem. Moramos bem. Vivemos bem. A menina Dilma continua na luta. Portanto, por questão de justiça, vote nela. Não vote em mim.
Marcelo Xavier "
J.Stanislau Filho - Mg
http://jestanislaufilho.blogspot.com.br/ 
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