quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Dia a Dia * Jorge Magnun Santos Martins - Rj

Dia a Dia - Jorge Magnun Santos Martins - Rj

(Foto: O Globo)

Acordo na confusão do dia-a-dia, 
sem tempo para entender nem mesmo o acordar e o porquê de estar de pé nesse dia.
Desperto com a certeza, adentrando na incerteza de que a chibata que rasgou as costas da minha ancestralidade é a mesma que me ameaça no meu dia-a-dia em minha territorialidade.
Mano, o dia começa com a notícia de uma mídia independente da favela presente, de um irmão, vítima de mais uma ação do Estado caveirão.
E aí, lembro que esse irmão que se materializa em mais um número para a sociedade, é o mesmo amigo do dia-a-dia, que dava aquele rolé nos bailes e as vezes na periferia, descendo o morro para tentar ser aceito nessa mesma sociedade que o introduziu aos poucos um pouco de sua desumanidade.
E esse mesmo irmão que tinha nome e sobrenome, uma vida, sonhos e conquistas travados pela bala que canta de uma mira de um Estado fascista e genocida, passa para uma outra dimensão, nesses segundos de uma ensurdecedora escuridão e solidão.
E nesse momento me vem a reflexão, que eu poderia estar no lugar desse irmão.
Por que não?
Quantos irmãos morrem no dia-a-dia, na favela e na periferia sem enxergar essa visão.
Que nosso inimigo é esse Estado Eugenista, Jesuíta, tingindo na espetaculização de uma criminalização da pobreza repercutida e reproduzida na Televisão, na Religião e na vida de cada dito cidadão.
E daí paro e penso no quanto longe eu viajei da nossa realidade, com essa análise muito intensa e bem descrita para os livros da faculdade.
Mas que na moral não da conta da nossa verdade do dia-a-dia, que não é recheada de poesia e compostas de palavras bonitas, ao primeiro som dos traçantes e estrondo das granadas de mais uma operação, com camburão e caveirão, salve-se quem puder meu irmão.
Não descrevem o medo nos olhos das crianças e principalmente de suas mães, que sabem que nesse momento estão a mercê de viver um dia, um mês, um ano, uma vida na completa solidão de perder alguém tão próximo, filho, neto, bisneto, sobrinho, que enfim pra mim vai ser sempre mais um irmão.

Autor. Jorge Magnun Santos Martins

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