A Ação Black Bloc Em Brasília
um depoimento do jornalista Alan Kaká
"Ainda no ônibus de volta para casa, passado o estado de euforia e letargia...
Vivenciei uma das maiores manifestação que o povo produziu nos últimos anos. Neste 24 de maio em Brasília eram milhares de trabalhadores sindicalizados, jovens de movimentos sociais, coletivos políticos sem partido, homens, mulheres e crianças!
Sim, crianças. Inclusive bebês de colo. Ajudei uma companheira a empurrar o carrinho de bebê pela Esplanada, enquanto ela dava de mamar para sua filhinha de colo. Isto durante a caminhada com milhares de pessoas rumo ao Congresso Nacional.
Era um protesto pacífico convocado por TODAS as centrais sindicais contra as reformas e exigindo #DiretasJá. Em que pese minhas críticas à tática, eu estava lá.
Do nada, bombas!
Um grupo de aposentados, que estava inadvertidamente na linha de frente, ficou no campo de ação da PM de Rodrigo Rollemberg. Jovens que adotaram a tática "Black Block" para este protesto fizeram um cordão de isolamento e retiraram estes mais velhos da linha de tiro, como fizeram por dezenas de vezes com feridos por bala de borracha, desmaiados sob o efeito tóxico do gás, desorientados e assustados.
Sim, haviam "Black Blocks" e antes de falar precisamos conhecer melhor o que é a tática.
Não eram nazis como alguns tentam deslegitimar. Eram jovens dos movimentos estudantil e sindical, da luta pelo campo e pela reforma urbana. Socialistas, anarquistas, reformista, social democratas, sem partido, utópicos que - naquele momento - cobriram seus rostos com tecidos embebidos em vinagre para amenizar o efeito do gás lacrimogêneo e ajudar aqueles que caídos, passavam mal pelo ataque da PM.
Ataque gratuito e descomunal. A força tática e o choque de Rollemberg impediam o povo de avançar rumo ao Congresso. Enquanto 200 mil pessoas - calculo eu - tentavam avançar rumo à "Casa do Povo" e ao Senado, uma frente armada não só com "não letais" impediam o avanço do povo. Esse é o quadro. Entre esta multidão e o braço armado do governo do DF, apenas um punhado de jovens sonhadores, tão heterogêneos quanto o povo que eles tentavam proteger do gás, das balas de borracha e de verdade que a PM disparava. Houveram balas letais! Um senhor foi atingido no pescoço e sobreviveu graças a ação rápida dos próprios manifestantes em fazer os primeiros socorros.
Não houve confronto:
Só na Bíblia uma pedra derruba Golias.
Estava mais uma releitura de Cervantes "cyber punk": centenas de figuras quixotescas lutavam contra moinhos de vento armados até os dentes.
Não houve uma guerra, mas haviam heróis e eles usavam máscaras improvisadas, palavras de ordem e sonhos.
Soube hoje pela manhã que um dos jovens que protegeu o grupo de aposentados teve três dedos decepados após a explosão de um artefato que empunhava. Em meio aos gritos, choro, ânsia de vômito, pessoas desmaiadas, um artefato explosivo estourou na mão de um sonhador. E aí cabe uma citação como adendo:
"Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor".
Estes jovens - alguns espíritos jovens - garantiram que a manifestação do povo não sofresse um pisoteio da cavalaria da PM. Eles garantiram que houvesse algum tempo de manifestação para que palavras de ordem, exortações, gritos de guerra e desabafos fossem ditos. Eles seguraram a PM de Rollemberg como puderam: escudos improvisados, plástico queimado, pedras e rojões contra blindados, helicópteros, polícia montada.
Houve depredação, sim. Mais que algumas vidraças e coisas facilmente substituíveis, a depredação dos nossos sonhos e direitos. A depredação da capacidade de algumas pessoas de saber discernir de que lado estão os que sofrem. Houve também quem nos defendesse.
Obrigado aos jovens!
Alan "Kaká" - Jornalista em Brasília no dia 24/05 #ocupabrasília #24M #diretasjá #diretaspordireitos "
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